Por que todo mundo tem lembranças falsas? A ciência por trás!

Desvendando lembranças falsas e o papel da memória.

Você já teve a sensação de recordar vividamente um evento que nunca aconteceu ou de revisitar um momento vivido de maneira diferente? Este fenômeno, conhecido como memória falsa, é um dos enigmas mais instigantes da psicologia cognitiva e é resulado da complexidade da mente humana.

O fenômeno das memórias fictícias

É comum acreditarmos que deixamos um objeto em um local específico e encontrá-lo em outro completamente diferente. Da mesma forma, experiências compartilhadas podem ser relatadas de forma divergente por diferentes pessoas. Essas discrepâncias na memória, embora misteriosas, fazem parte do funcionamento normal do cérebro e frequentemente passam despercebidas.

Segundo Julia Shaw, psicóloga e especialista no estudo das memórias, em entrevista para a Life Scientific, da BBC, todas as pessoas carregam lembranças alterada, mesmo aqueles que acreditam ter uma ótima memória. Isso ocorre porque a memória não funciona como um arquivo estático, mas como um processo de reconstrução ativo.

Memórias autobiográficas envolvem uma integração de componentes multissensoriais, como sentimentos e percepções. Além disso, reviver experiências pessoais requer a ativação de várias áreas cerebrais, criando uma rede neural complexa. O resultado disso é que essas recordações não são registros precisos do passado; em vez disso, são reconstruções, sujeitas a alterações cada vez que são evocadas.

Embora possam parecer falhas, as inconsistências da memória têm uma base evolutiva. Shaw explica que o cérebro humano não é projetado para armazenar informações de forma imutável, mas sim para oferecer suporte à interpretação do presente e à antecipação do futuro. Dessa forma, a capacidade de moldar lembranças é uma estratégia adaptativa que permite ao cérebro ajustar-se a novos contextos e criar narrativas úteis para a sobrevivência.

Formação intencional de lembranças falsas

Estudos demonstram que memórias podem ser facilmente manipuladas por meio da sugestão. Em um experimento conduzido por Shaw, estudantes foram induzidos a acreditar em eventos fictícios ao combinar informações reais com sugestões cuidadosamente elaboradas.

No experimento, estudantes foram induzidos a criarem memórias falsas de eventos traumáticos, como agressões ou ataques de animais, Para isso, os pesquisadores utilizaram informações reais fornecidas pelos pais dos participantes do estudo combinadas com detalhes fictícios. O resultado surpreendente mostrou que 70% dos participantes criaram memórias elaboradas de crimes fictícios.

Esse experimento evidenciou a fragilidade das memórias e a facilidade com que a linha entre realidade e ficção pode ser cruzada.

O problema por trás das memórias falsas

A maleabilidade da memória levanta questões importantes em diversas áreas, especialmente no contexto judicial. Testemunhos pessoais, considerados frequentemente como evidências confiáveis, podem ser distorcidos por influência de perguntas sugestivas ou manipulações linguísticas. Por isso, especialistas defendem que sistemas legais considerem a natureza volátil da memória ao avaliar relatos testemunhais.

 

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