O que é Wabi Sabi? Descubra a beleza da imperfeição e minimalismo
Com forte influência na cultura japonesa, o wabi sabi traz consigo uma noção profunda que mistura arte e filosofia de vida
Você já ouviu falar em wabi sabi? De modo muito simplista, trata-se de aceitar as imperfeições da vida. Mais ainda, enxergar a beleza nisso! Um desafio e tanto, considerando a cobrança exacerbada pela perfeição.
O wabi sabi tem raízes no Zen Budismo e propõe que as pessoas exerçam um olhar diferente sobre os ritmos e olhares. A proposta, aliás, tem fortes influências na cultura e modo de vida.
De fato, essa filosofia se vê presente, por exemplo, desde a cerimônia do chá até os bonsais ou ikebana. Quer, também, mudar a forma de ver o mundo e se cobrar menos? Saiba mais sobre o que é o wabi sabi e como aplicar em sua vida.
O que é wabi sabi?
Em primeiro lugar, é preciso compreender que wabi sabi não é algo tangível. Isso significa que, no Japão, por exemplo, é inicialmente imperceptível. Entretanto, está presente em praticamente todos os lugares.
Assim, o wabi sabi se relacionada a paisagens, objetos e até seres humanos. A ideia pode ser entendida como a apreciação de uma beleza fadada ao desaparecimento. Também, uma contemplação efêmera de algo que se torna mais belo à medida que envelhece.
Ou seja, ainda que chegue ao seu fim, aquilo pode até desbotar, mas adquire um novo encanto. De acordo com Andrew Juniper, em The Japanese Art of Impermanence (A Arte Japonesa da Impermanência), trata-se da apreciação intuitiva da beleza efêmera no mundo físico que reflete o fluxo irreversível da vida no mundo espiritual“.
Na prática, o wabi sabi está na rachadura de um bule, na madeira de uma porta velha, no musgo verde de uma rocha, na paisagem enevoada, numa xícara distorcida ou no reflexo da lua no lago.
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Origem do termo “wabi sabi“
Etimologicamente, o termo wabi sabi é composto por dois caracteres kanji (sistema de ideogramas). A segunda parte, sabi (?) data do século VIII, quando era usada para designar a desolação de forma poética.
A partir do século XII, evoluiu e passou a se referir, precisamente, à contemplação do que é velho e gasto. Também era aplicada para a expressão da beleza de coisas desbotadas ou murchas.
Outra tradução interessante do sabi significa velho e elegante, ou enferrujado, com uma impressão intraduzível de tranquilidade. Já o termo wabi (?) surgiu no século XV para designar uma nova sensibilidade estética relacionada com a cerimônia do chá.
Neste caso, se referia ao ambiente geral e objetos utilizados no serviço formal. Sua definição remonta à solidão ou melancolia, à valorização de uma vida serena, longe da agitação urbana.
A bem da verdade, o termo wabi sabi é um tanto quanto difícil de traduzir. Por isso, sua explicação se resume a um sentimento, mais do que a um conceito, encontrado na estética clássica japonesa. Além disso, incentiva a simplicidade e autenticidade em tudo.
De onde vem o wabi sabi?
De fato, o wabi sabi é inerente à sensibilidade japonesa. Basta ver o gosto pelo minimalismo e simplicidade. Porém, encontramos sua origem na história do monge Sen no Riky?, do século XVI, considerado o precursor da cerimônia do chá.
Segundo a lenda, o jovem Riky?, ansioso para aprender os códigos do ritual ancestral da cerimônia, buscou um reconhecido mestre chamado Takeeno Joo. Inclinado a testar as habilidades do aprendiz, o mestre pediu que ele cuidasse do jardim.
E assim, Rikyu fez! Ele o limpou de cima a baixo, até ficar perfeito. No entanto, quando mostrou o resultado ao mestre, Takeeno Joo simplesmente sacudiu uma cerejeira e, consequentemente, flores de sakura caíram no chão.
Foi justamente esse toque de imperfeição que trouxe beleza à cena. Assim, nascia o conceito de wabi sabi. Com o tempo, Sen no Riky? se firmou como um dos maiores e mais influentes mestres do chá da história.
Para se ter uma ideia, transformou a cerimônia, como era praticada anteriormente, com utensílios de luxo e exuberância, em um ritual refinado. A mudança se deu de forma a emanar a uma beleza inigualável a partir dos objetos e atmosfera simples.
Menos é mais!
A ideia de utilizar objetos imperfeitos, às vezes quebrados e consertados, em uma sala desprovida de itens supérfluos era fazer da degustação do chá a comunhão para o espírito. O objetivo era nutri-lo dos princípios da harmonia, pureza, respeito e tranquilidade.
Por esse motivo, a cerimônia também é conhecida como wabi-cha. O ritual ficou tão enraizado na cultura japonesa que, ainda hoje, as mais prestigiadas cerimônias contam com chávenas de centenas de anos e utensílios antigos.
Aqui, o wabi sabi se aplica de forma explícita, sobretudo na cerâmica. As xícaras são distorcidas e irregulares porque cada objeto deve ser único para ter seu próprio charme.
Entretanto, a beleza imperfeita do wabi sabi é encontrada em muitas outras formas de arte japonesas. Por exemplo, na cerâmica Raku.
O wabi sabi na arte japonesa
Como já vimos, o wabi sabi é tanto uma sensibilidade artística tanto quanto um sentimento efêmero de beleza. O objetivo é celebrar a passagem do tempo e seus danos sublimes. Como resultado, a noção de beleza através da imperfeição está em muitas formas de arte.
Literatura
O haicai, uma arte ancestral imbuída da filosofia zen, consiste em três frases que compreendem:
- kireji (palavra de corte)
- 17 unidades fonéticas em um padrão 5-7-5
- kigo (referência sazonal)
Essa forma de poesia codificada permite expressar a beleza instantânea de uma cena e, portanto, é adequada para salientar o sentimento de wabi sabi.
Música
O shakuhachi, flauta tradicional japonesa, possui uma estrutura simples: um tubo de bambu áspero, aberto em ambas as extremidades, com cinco furos e uma extremidade inferior feita da raiz do talo de bambu.
Mesmo que pareça pouco sofisticado, é uma obra de arte, artesanato e engenharia. Tanto que a Honkyoku, música de flauta tocada por monges também é considerada wabi sabi.
Relação com a natureza
Os japoneses têm uma relação estreita com a natureza, sobretudo por viverem em uma região exposta a terremotos e tsunamis. Consequentemente, respeitam a natureza tanto quanto a temem.
Essa relação se reflete no ikebana, arte de arranjos florais que estimula a magnificência natural na simplicidade. Uma única flor no vaso incorpora perfeitamente o wabi sabi ao harmonizar assimetria, profundidade e espaço.
Também, no bonsai, as famosas árvores em miniatura, muitas vezes feitas de madeira texturizada ou morta e plantas com troncos ocos. Estes elementos são destinados a enfatizar a passagem do tempo e a beleza da natureza.
Por fim, nos jardins zen, que misturam elementos efêmeros (musgos verdes, arbustos em crescimento, pétalas de flores frescas) e imutáveis ??(areia varrida, pedras antigas).
Restauração
A kintsugi é uma antiga técnica japonesa de restauração que consiste em remendar as peças com verniz misturado, ou polvilhado, a pó de ouro. Ou seja, em vez de jogar fora as cerâmicas quebradas, dá-se uma segunda chance às peças com esse trabalho meticuloso.
O foco na reutilização e reparo se relaciona ao mottainai, ou evitar o desperdício, aliado ao desejo de celebrar a beleza da passagem do tempo. Ainda neste sentido, o kintsugi funciona como metáfora da resiliência pelos profissionais de saúde.
Por exemplo, eles podem experimentar um trauma, serem danificados e depois renascerem, mais bonitos e mais fortes.
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O wabi sabi no cotidiano
O arquiteto americano Leonard Koren teorizou a estética wabi sabi e ajudou a difundir essa percepção fora do Japão. No livro Wabi Sabi For Artists, Designers, Poets & Philosophers (1994), fez uma distinção entre a forma e o espírito.
A forma é a manifestação material da noção por objetos e sua disposição, ou por sensações e sons. O espírito é a maneira filosófica de apreender o wabi sabi e, assim, experimentá-lo. Na opinião de Koren, o wabi sabi acontece, não pode ser criado.
Deste modo, Koren compara o sentimento de wabi sabi a uma pessoa que se apaixonaria por outra pessoa considerada pouco atraente. A primeira pessoa perceberia e apreciaria a beleza imperfeita da segunda.
Nos últimos anos, o wabi sabi ganhou reconhecimento no mundo ocidental e inúmeros livros que abordam o assunto. Mais de vinte anos após sua primeira publicação, Leonard Koren, por exemplo, escreveu um segundo livro, Wabi Sabi Further Thoughts.
De fato, a filosofia wabi sabi se aplica diariamente na sensibilidade de levar à felicidade, ou à aceitação da beleza das coisas simples e naturais. Em outras palavras, é uma forma de experimentar pequenas alegrias.
E não precisa ir tão longe! Quando você admira uma paisagem, acha um objeto bonito ou simplesmente desfruta de uma boa companhia, sente o wabi sabi.
Em suma, o wabi sabi integra a vida japonesa, refletido no retorno a valores humildes e despretensiosos. Para saber mais sobre estilo de vida mais saudável, física e psicologicamente, confira nossas dicas!